Dia 16 de Maio é o dia do Gari, uma profissão humilde mas tão importante quanto qualquer outra.
E em homenagem a esta classe trabalhadora resolvi compartilhar com vocês esta história fantástica vivida pelo psicólogo social Fernando Braga da Costa.
Veja só:
'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE
RECEBE'
'Fingi ser gari por 1 mês e vivi como um ser invisível'
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de
mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas
enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob
esse critério, vira mera sombra social.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e
trabalhou um mês como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,
constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres
invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a
existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana
totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde
enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio
período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura,
mas garante que teve a maior lição de sua vida: 'Descobri que um simples bom
dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da
própria existência', explica o pesquisador.
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um
objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores
da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,
esbarravam no meu ombro e,sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se
tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz. No primeiro dia de
trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma
plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar,
eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal
conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi
até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela
metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava
num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro.
Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente,
senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o
cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem
sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a
caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se
perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu
bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar
comigo, a contar piada, brincar.
O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão
central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei
pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na
biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz
todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito
ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da
cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não
senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
E depois de um mês trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando
também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se
aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por
mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por
um poste, uma árvore, um orelhão.
E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em
que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito
que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens
hoje são meus amigos. Conheço a família deles, frequento a casa deles nas
periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de
o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um
animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem
uma 'COISA'.
*Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na
vida!
Autor: Plinio Delphino
Enviado por: José Carlos
(Os
garis surgiram para limpar as sujeiras naturais.
Exemplos: folhas das árvores, poeiras, pedras, etc.Os mal educados jogam as suas sujeiras no chão
achando que os garis existem para servi-los.) SE LIGA
Exemplos: folhas das árvores, poeiras, pedras, etc.Os mal educados jogam as suas sujeiras no chão
achando que os garis existem para servi-los.) SE LIGA
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